14 de fevereiro de 2009

12 de fevereiro de 2009

Tipologia dos crimes


Só em Portugal, 52,8% das mulheres declara já ter sido objecto de violência por parte do marido, amante ou companheiro. Por outro lado mais de 35% das mulheres dizem que as agressões duravam há mais de 10 anos e esta foi a primeira vez que reclamaram.


Mulheres dos 26 aos 45 anos, desempregadas, titulares de baixos rendimentos e de nível socioeconómico baixo estão mais expostas a este flagelo.

A habitação é o local escolhido pelo marido ou companheiro. A violência é feita quando este chega ao final do dia sendo também as agressões difíceis de detectar. Na sua maioria estão localizadas em partes não visíveis do corpo, o que é feito propositadamente. E também por causa disto na maioria das vezes a situação mantém-se no anonimato. Antes da vítima apresentar queixa, normalmente, já existia um grande perigo de violência.
Os agressores utilizam: as mãos, os pés, o cinto, o pau, o ferro, pedras, objectos de loiça ou vidro, taco de bilhar, portais, móveis, capacetes, chapéus-de-chuva, chaves, telemóveis, enfim tudo que tiver à mão para agredir fisicamente a vítima.

Tipologias do crime na Europa

Alemanha
São assassinadas três mulheres de 4 em 4 dias pelos homens com quem vivem. O que corresponde a cerca de 300 vítimas por ano.


Reino Unido
Morre uma mulher de três em três dias.

Espanha
Uma mulher é morta de 4 em 4 dias cerca de 100 por ano.

França
Morrem seis mulheres por mês. Uma de cinco em cinco dias. Destas:
1/3 é esfaqueada;
1/3 Abatidas a tiro;
20% estranguladas
10% espancadas até á morte.

O Agressor, a vitima e o ciclo disfuncional da violência doméstica

É quase sempre o marido ou companheiro e encontra-se numa faixa etária alargada, dos 25 aos 54 anos. No entanto, existem muitos outros casos de violência por parte de outros membros da família, ou mesmo de antigos companheiros ou cônjuges.
Segundo estatísticas do Serviço de Informação a Vítimas de Violência Doméstica, os agressores são muitas vezes dependentes de álcool e de outras drogas.

Em muitos casos, o agressor já foi, ele próprio, mal tratado de uma forma activa ou negligenciado: embora sem relação directa, grande parte foi vítima no passado, crescendo num ambiente familiar violento onde só conheceu determinado tipo de atitudes, que se transformam no seu modelo (reprodução do ciclo de violência). Por não sofrer habitualmente com os seus problemas, o agressor não pretende, em muitos casos, mudar. Daí a dificuldade na adesão a apoios, sendo geralmente necessárias pressões externas (familiares ou judiciais).

Normalmente tendem a justificar os seus problemas através de factores externos: sociedade e circunstâncias da vida.

É sempre fundamental avaliar os riscos e accionar esquemas de protecção adequados.


Este pode mostrar-se:
o Sedutor – trata-se de uma estratégia de manipulação que pretende descredibilizar a vítima e colocá-la muitas vezes em dúvida face a si mesma.
o Agressivo – em geral, quando sente que pode estar a perder o controlo. Tenta pelo medo conseguir os objectivos.

A Vítima

De um modo geral existem algumas características que são comuns encontrar em vítimas de violência doméstica, embora não seja obrigatória a sua presença:
§ Pertença a famílias onde foram vítimas de maus-tratos ou assistiram a episódios de violência;
§ Fraco ou inexistente apoio familiar;
§ Rede de suporte social frágil;
§ Auto-estima baixa com tendência a assumir a culpa pela situação;
§ Dependência emocional do companheiro;
§ Fraca capacidade de perspectivação do futuro e de ver opções de vida sem o companheiro.

Por outro lado existem factores que levam a vítima a manter a situação:

o Deficiente informação – desconhecimento dos seus direitos ou medo das consequências.
o Defender a família – preocupação especialmente com os filhos.
o Falta de apoio da família – vergonha, que as leva a afastarem-se gradualmente soa dos amigos e familiares, isolando-se acabando por se tornar mais vulneráveis.
o Recursos financeiros – escassos e impeditivos de alcançarem a autonomia.
o Razões psicológicas e afectivas e culturais – o processo de culpabilização e humilhação que vivem ao longo de anos impede-as, muitas vezes, de se aperceberem que estão a ser vítimas de um crime; crenças sobre o casamento (“os filhos precisam de um pai”; idealização de um casamento romântico); crenças sobre o homem (“ele vai mudar e ela pode ajudar”).
o Desculpabilização – por receio de ter “desperdiçado o passado” e de um “futuro vazio”.

Quando se encontram livres da violência doméstica as principais necessidades apresentadas são:

o Apoio material, sobretudo no que se reserva às condições habitacionais;
o Protecção para si e para os filhos;
o Reinserção no mercado de trabalho;
o Suporte afectivo e apoio na decisão;
o Apoio jurídico.

Perfil Sociodemográfico da Vítima

Género: feminino (87%)
Idade: entre os 26 e os 45 anos (34,1%)
Dependência: nenhuma (31,7%)
Estado civil: casada (47%)
Tipo de família: nuclear com filhos (51,4%)
Nacionalidade: Portuguesa (73,4%)
Nível de ensino: Ensino superior (9%), 3º Ciclo (7,3%)
Condição perante a actividade económica: Empregada (40,8%)
Principal meio de vida: Rendimento do trabalho (38,7%)
Profissão: trabalhadores não qualificados dos serviços e do comércio (10,7%)
Distrito de residência: Lisboa (33%)Tipo de vitimação de que são alvo: Vitimação continuada (78%)

Ciclo disfuncional da violência doméstica

Fase de Aumento da Tensão: o agressor vai acumulando tensões quotidianas, que ele não sabe resolver sem o recurso à violência, criando um ambiente de eminente perigo para a vitima, a qual vai sendo culpabilizada por tais tensões.

Fase do Apaziguamento: depois da “descarga” da tensão pela violência, o agressor manifesta arrependimento com recurso a bons tratos e sedução; promete não voltar a ser violento, desculpabilizando o seu comportamento, por exemplo, por se ter embriagado ou por lhe ter corrido mal o dia de trabalho.


Fase do Ataque Violento: o agressor maltrata, física e/ou psicologicamente a vitima, que procura defender-se apenas pela passividade, esperando que ele pare e não avance com mais violência.

Mitos e realidades sobre a violência doméstica


Mitos _____vs_____Realidade

Os maus-tratos ocorrem em famílias de baixo nível educacional e económico.
Ocorrem em todos os níveis socio-económicos; apenas é mais difícil para alguém de uma classe social alta dar a conhecer que é vitima.

Maridos e mulheres sempre se bateram, é natural e não tem nada de mal.
Há conflitos ocasionais que se distinguem dos maus-tratos dado que estes envolvem violência física ou de outro tipo.

Uma bofetada não magoa ninguém.
A violência doméstica distingue-se de um incidente pontual pela sua severidade e frequência.

As mulheres maltratadas são masoquistas, levando-as a manter a relação.
Existem factores que dificultam a saída da mulher: a dependência económica, insegurança, vergonha, amar, apoiar sozinha as crianças…

Algumas mulheres provocam os homens e por isso merecem ser mal tratadas.
Ninguém merece ser mal tratado. Nada justifica os maus-tratos. A provocação não é o que causa um episódio violento.

“Quanto mais me bates mais eu gosto de ti”.
Grande parte das mulheres maltratadas vive em grande terror, permanecendo em sofrimento físico e mental.

Um agressor bate na mulher, mas não nas suas crianças.
3 em cada 4 casamentos violentos em que existem crianças, estas são fisicamente maltratadas.

O agressor é psicopata.
Os agressores levam de uma forma geral uma vida “normal”.

Os maus-tratos são desculpáveis se o homem tem problemas ou estava embriagado. “Ele no fundo não é mau”.
Os maus-tratos são um crime, punido por lei. O agressor quase sempre repete a agressão.

O abuso de álcool causa violência.
1/3 dos agressores não bebe álcool. 1/3 dos agressores com problemas de álcool espanca quer esteja sóbrio ou alcoolizado.

Uma mulher que é espancada uma vez vai continuar a ser espancada.
Há programas que oferecem apoios específicos nestas situações.

Principais tipos de violência doméstica

Física – inclui qualquer forma de contacto que magoe a vítima. Vai desde a bofetada, murro, pontapé, até espancamento, agressões com objectos e armas.

Sexual – qualquer tipo de contacto e/ou comportamento sexual não desejado pela vitima, mas que lhe é imposto (agressões sexuais e violação).

Psicológico – o agressor tenta levar a vítima ao desequilíbrio mental, inclusive pela minimização de sentimentos e culpabilização, bem como pelo isolamento da família e amigos. Afirmações que pretendam minar a autoconfiança da vítima. Vai desde insultos e humilhações em família e em público, injúrias e difamação, até intimidações e chantagem (utilizando muitas vezes os filhos neste processo).

Verbal – ameaça, intimidações e discussões violentas.

Financeiros – muitas vítimas são economicamente dependentes dos agressores, que utilizam esse factor como forma de exercer pressão sobre elas.

Destruição de propriedade – para ameaçar ou aterrorizar a vítima o agressor pode destruir bens que sejam da sua propriedade (ex: roupas, livros, objectos e documentos pessoais).

A violência doméstica pode surgir sob a forma de diversos comportamentos que habitualmente aparecem combinados.

Podemos agrupa-los em três categorias (não esquecer que esta tipificação é meramente teórica).



Física

Sexual

Psicológica

Empurrar

Tocar contra a vontade

“Chamar nomes”

Bater

Falsas acusações

Criticar, gritar

Esbofetear

Infidelidade

Denegrir

Atirar objectos

Violação

Humilhar

Espancar


Controlar

Usar armas


Isolar

Homicídio


Ignorar

Consequências da vitimação



Tanto as circunstâncias específicas que se encontram na origem de um acto de vitimação, como as consequências desta vitimação podem ser muitas e diversificadas. Embora com variações, todas as vitimas se sentem perturbadas por um acto violento.

Quanto mais violento o crime, mais se verifica a afectação geral na vítima. No entanto, não é só a gravidade do crime que pode ser determinante no impacto na vítima: há, geralmente, um conjunto de consequências de carácter psicológico, físico e social que se manifesta após a vitimação e que pode ser determinante para a vivência da pessoa.

Numa vitimação, a vítima não é, geralmente, a única pessoa em sofrimento. As testemunhas desta vitimação podem ser também afectadas. Também os familiares e amigos da vítima, ainda que não necessariamente testemunhas do crime, podem sofrer as consequências do mesmo, de um modo geral sofrendo um medo de perder o ente querido, sentimentos de culpa, sentimentos de impotência, etc.

Estas consequências, qualquer que seja a natureza da vitimação, verificam-se aos níveis físico, psicológico e social.


Consequências físicas

Os efeitos físicos incluem não só os resultados directos das agressões sofridas pela vítima (fracturas, hematomas, etc.), mas também a resposta do corpo e do organismo ao stress a que foi sujeito, através de um quadro sintomatológico próprio. No entanto, não aparecem todas ao mesmo tempo e a sua intensidade varia de pessoa para pessoa. Destas consequências podem dar-se os seguintes exemplos:

- Perda de energia;

- Abaixamento dos níveis de resistência (tendência para contrair gripe, etc.);

- Dores musculares;

- Dores de cabeça e/ou enxaquecas;

- Distúrbios ao nível da menstruação;

- Arrepios e/ou afrontamentos;

- Problemas digestivos:

  • Aumento ou diminuição do apetite
  • Obstipação
  • Náuseas

- Tremores;

- Tensão arterial alta;

- Mudanças no comportamento sexual:

  • Aumento ou diminuição do interesse sexual
  • Ausência de orgasmo
  • Consequências psicológicas

A ultrapassagem dos efeitos psicológicos posteriores a uma situação de vitimação pode revelar-se extremamente difícil. De facto, algumas pessoas chegam a recear perder o equilíbrio psíquico.


As consequências psicológicas da vitimação podem ser:

- Ambivalência relacionada com as suas emoções:

  • Solidão
  • Culpa
  • Impotência
  • Sentimento de ser injustamente tratado
  • Raiva

- Desconfiança;

- Tristeza;

- Flashbacks;

- Falta de motivação;

- Dificuldade com processos mentais que levam à confusão:

  • Perda de memória
  • Redução da atenção/concentração
  • Problemas para tomar decisões e estabelecer prioridades
  • Extrema irritabilidade
  • Problemas com o sono

- Medos ou fobias;

- Diminuição da autoconfiança;


Consequências sociais

A vitimação obriga por vezes a profundas alterações estruturais da vida quotidiana (a mudança de casa ou de emprego, etc.). O abalo geral ou parcial do seu projecto de vida implica geralmente:

- Sentimento de solidão;

- Tensões familiares e conjugais;

- Medo de estar sozinho;

- Evitamento de determinados locais;

- Sentimento de insegurança.

As consequências acima listadas são as mais frequentes, podendo não se verificar em todas as vítimas. No quadro seguinte, descrevem-se as consequências típicas de determinadas formas de vitimação. Ainda assim, não pode perder-se de vista uma premissa fundamental: cada caso é um caso.


Tipos de violência

Violência doméstica

Crianças que testemunham violência doméstica

Violência sexual contra crianças

Familiares de vítimas de homicídio

Furto ou roubo

Psicológicas

· Perda da

Auto-estima

· Vergonha

· Depressão

· Desconfiança

· Sentimento de culpa

· Tentativas de suicídio

· Sentimentos de culpa e impotência

· Agressividade

· Insegurança

· Medo

· Dependência da mãe/pai

· Sentimento de estar a ser disputada pelo pai e/ou mãe

· Nervosismo

· Fobias

· Isolamento social

· Insónias e pesadelos

· Enurese nocturna ou diurna

· Sentimento de culpa

· Irritabilidade

· Agressividade

· Culpa

· Agressividade

· Depressão

· Solidão

· Ideias de suicídio

· Sentimento de vingança

· Medo

· Sentimento de culpa

· Insónias

· Nervosismo

· Desconfiança

Físicas

· Insónia

· Fadiga

· Distúrbios psicossomáticos

· Distúrbios do sono

· Dependência química

· Insónia

· Hiperactividade

· Diminuição ou perda de apetite

· Infecções urinárias

· Doenças sexualmente transmissíveis

· Dores abdominais

· Vómitos

· Perda de apetite

· Fadiga

· Dificuldade de concentração

· Problemas de saúde

· Distúrbios digestivos

· Tensão arterial elevada

Sociais

· Isolamento

· Estigmatização

· Incompreensão por parte de familiares e amigos

· Estigmatização

· Absentismo escolar

· Fraco rendimento escolar

· Medo de ir para casa

· Manipulação constante dos órgãos genitais

· Regressão a comportamentos antigos

· Actividade sexual

· Delinquência

· Prostituição

· Fugas do lar

· Problemas escolares

· Isolamento

· Desconfiança em relação aos outros

· Conflitos familiares

· Desconfiança em relação aos outros

· Alteração de hábitos

· Redução de actividades sociais