14 de fevereiro de 2009
12 de fevereiro de 2009
Tipologia dos crimes
Só em Portugal, 52,8% das mulheres declara já ter sido objecto de violência por parte do marido, amante ou companheiro. Por outro lado mais de 35% das mulheres dizem que as agressões duravam há mais de 10 anos e esta foi a primeira vez que reclamaram.
Tipologias do crime na Europa
Alemanha
São assassinadas três mulheres de 4 em 4 dias pelos homens com quem vivem. O que corresponde a cerca de 300 vítimas por ano.
Reino Unido
Morre uma mulher de três em três dias.
Espanha
Uma mulher é morta de 4 em 4 dias cerca de 100 por ano.
França
Morrem seis mulheres por mês. Uma de cinco em cinco dias. Destas:
1/3 é esfaqueada;
1/3 Abatidas a tiro;
20% estranguladas
10% espancadas até á morte.
O Agressor, a vitima e o ciclo disfuncional da violência doméstica
Em muitos casos, o agressor já foi, ele próprio, mal tratado de uma forma activa ou negligenciado: embora sem relação directa, grande parte foi vítima no passado, crescendo num ambiente familiar violento onde só conheceu determinado tipo de atitudes, que se transformam no seu modelo (reprodução do ciclo de violência). Por não sofrer habitualmente com os seus problemas, o agressor não pretende, em muitos casos, mudar. Daí a dificuldade na adesão a apoios, sendo geralmente necessárias pressões externas (familiares ou judiciais).
Normalmente tendem a justificar os seus problemas através de factores externos: sociedade e circunstâncias da vida.
É sempre fundamental avaliar os riscos e accionar esquemas de protecção adequados.
o Agressivo – em geral, quando sente que pode estar a perder o controlo. Tenta pelo medo conseguir os objectivos.
A Vítima
De um modo geral existem algumas características que são comuns encontrar em vítimas de violência doméstica, embora não seja obrigatória a sua presença:
§ Pertença a famílias onde foram vítimas de maus-tratos ou assistiram a episódios de violência;
§ Fraco ou inexistente apoio familiar;
§ Rede de suporte social frágil;
§ Auto-estima baixa com tendência a assumir a culpa pela situação;
§ Dependência emocional do companheiro;
§ Fraca capacidade de perspectivação do futuro e de ver opções de vida sem o companheiro.
Por outro lado existem factores que levam a vítima a manter a situação:
o Deficiente informação – desconhecimento dos seus direitos ou medo das consequências.
o Defender a família – preocupação especialmente com os filhos.
o Falta de apoio da família – vergonha, que as leva a afastarem-se gradualmente soa dos amigos e familiares, isolando-se acabando por se tornar mais vulneráveis.
o Recursos financeiros – escassos e impeditivos de alcançarem a autonomia.
o Razões psicológicas e afectivas e culturais – o processo de culpabilização e humilhação que vivem ao longo de anos impede-as, muitas vezes, de se aperceberem que estão a ser vítimas de um crime; crenças sobre o casamento (“os filhos precisam de um pai”; idealização de um casamento romântico); crenças sobre o homem (“ele vai mudar e ela pode ajudar”).
o Desculpabilização – por receio de ter “desperdiçado o passado” e de um “futuro vazio”.
Quando se encontram livres da violência doméstica as principais necessidades apresentadas são:
o Apoio material, sobretudo no que se reserva às condições habitacionais;
o Protecção para si e para os filhos;
o Reinserção no mercado de trabalho;
o Suporte afectivo e apoio na decisão;
o Apoio jurídico.
Perfil Sociodemográfico da Vítima
Género: feminino (87%)
Idade: entre os 26 e os 45 anos (34,1%)
Dependência: nenhuma (31,7%)
Estado civil: casada (47%)
Tipo de família: nuclear com filhos (51,4%)
Nacionalidade: Portuguesa (73,4%)
Nível de ensino: Ensino superior (9%), 3º Ciclo (7,3%)
Condição perante a actividade económica: Empregada (40,8%)
Principal meio de vida: Rendimento do trabalho (38,7%)
Profissão: trabalhadores não qualificados dos serviços e do comércio (10,7%)
Distrito de residência: Lisboa (33%)Tipo de vitimação de que são alvo: Vitimação continuada (78%)
Ciclo disfuncional da violência doméstica
Fase de Aumento da Tensão: o agressor vai acumulando tensões quotidianas, que ele não sabe resolver sem o recurso à violência, criando um ambiente de eminente perigo para a vitima, a qual vai sendo culpabilizada por tais tensões.
Fase do Apaziguamento: depois da “descarga” da tensão pela violência, o agressor manifesta arrependimento com recurso a bons tratos e sedução; promete não voltar a ser violento, desculpabilizando o seu comportamento, por exemplo, por se ter embriagado ou por lhe ter corrido mal o dia de trabalho.
Fase do Ataque Violento: o agressor maltrata, física e/ou psicologicamente a vitima, que procura defender-se apenas pela passividade, esperando que ele pare e não avance com mais violência.
Mitos e realidades sobre a violência doméstica
Mitos _____vs_____Realidade
Maridos e mulheres sempre se bateram, é natural e não tem nada de mal.
Há conflitos ocasionais que se distinguem dos maus-tratos dado que estes envolvem violência física ou de outro tipo.
Uma bofetada não magoa ninguém.
Principais tipos de violência doméstica
Física – inclui qualquer forma de contacto que magoe a vítima. Vai desde a bofetada, murro, pontapé, até espancamento, agressões com objectos e armas.
Sexual – qualquer tipo de contacto e/ou comportamento sexual não desejado pela vitima, mas que lhe é imposto (agressões sexuais e violação).
Psicológico – o agressor tenta levar a vítima ao desequilíbrio mental, inclusive pela minimização de sentimentos e culpabilização, bem como pelo isolamento da família e amigos. Afirmações que pretendam minar a autoconfiança da vítima. Vai desde insultos e humilhações em família e em público, injúrias e difamação, até intimidações e chantagem (utilizando muitas vezes os filhos neste processo).
Verbal – ameaça, intimidações e discussões violentas.
Financeiros – muitas vítimas são economicamente dependentes dos agressores, que utilizam esse factor como forma de exercer pressão sobre elas.
Destruição de propriedade – para ameaçar ou aterrorizar a vítima o agressor pode destruir bens que sejam da sua propriedade (ex: roupas, livros, objectos e documentos pessoais).
A violência doméstica pode surgir sob a forma de diversos comportamentos que habitualmente aparecem combinados.
Podemos agrupa-los em três categorias (não esquecer que esta tipificação é meramente teórica).
Física | Sexual | Psicológica |
Empurrar | Tocar contra a vontade | “Chamar nomes” |
Bater | Falsas acusações | Criticar, gritar |
Esbofetear | Infidelidade | Denegrir |
Atirar objectos | Violação | Humilhar |
Espancar | Controlar | |
Usar armas | Isolar | |
Homicídio | Ignorar |
Consequências da vitimação
Tanto as circunstâncias específicas que se encontram na origem de um acto de vitimação, como as consequências desta vitimação podem ser muitas e diversificadas. Embora com variações, todas as vitimas se sentem perturbadas por um acto violento.
Quanto mais violento o crime, mais se verifica a afectação geral na vítima. No entanto, não é só a gravidade do crime que pode ser determinante no impacto na vítima: há, geralmente, um conjunto de consequências de carácter psicológico, físico e social que se manifesta após a vitimação e que pode ser determinante para a vivência da pessoa.
Numa vitimação, a vítima não é, geralmente, a única pessoa
Estas consequências, qualquer que seja a natureza da vitimação, verificam-se aos níveis físico, psicológico e social.
Consequências físicas
Os efeitos físicos incluem não só os resultados directos das agressões sofridas pela vítima (fracturas, hematomas, etc.), mas também a resposta do corpo e do organismo ao stress a que foi sujeito, através de um quadro sintomatológico próprio. No entanto, não aparecem todas ao mesmo tempo e a sua intensidade varia de pessoa para pessoa. Destas consequências podem dar-se os seguintes exemplos:
- Perda de energia;
- Abaixamento dos níveis de resistência (tendência para contrair gripe, etc.);
- Dores musculares;
- Dores de cabeça e/ou enxaquecas;
- Distúrbios ao nível da menstruação;
- Arrepios e/ou afrontamentos;
- Problemas digestivos:
- Aumento ou diminuição do apetite
- Obstipação
- Náuseas
- Tremores;
- Tensão arterial alta;
- Mudanças no comportamento sexual:
- Aumento ou diminuição do interesse sexual
- Ausência de orgasmo
- Consequências psicológicas
A ultrapassagem dos efeitos psicológicos posteriores a uma situação de vitimação pode revelar-se extremamente difícil. De facto, algumas pessoas chegam a recear perder o equilíbrio psíquico.
As consequências psicológicas da vitimação podem ser:
- Ambivalência relacionada com as suas emoções:
- Solidão
- Culpa
- Impotência
- Sentimento de ser injustamente tratado
- Raiva
- Desconfiança;
- Tristeza;
- Flashbacks;
- Falta de motivação;
- Dificuldade com processos mentais que levam à confusão:
- Perda de memória
- Redução da atenção/concentração
- Problemas para tomar decisões e estabelecer prioridades
- Extrema irritabilidade
- Problemas com o sono
- Medos ou fobias;
- Diminuição da autoconfiança;
A vitimação obriga por vezes a profundas alterações estruturais da vida quotidiana (a mudança de casa ou de emprego, etc.). O abalo geral ou parcial do seu projecto de vida implica geralmente:
- Sentimento de solidão;
- Tensões familiares e conjugais;
- Medo de estar sozinho;
- Evitamento de determinados locais;
- Sentimento de insegurança.
As consequências acima listadas são as mais frequentes, podendo não se verificar em todas as vítimas. No quadro seguinte, descrevem-se as consequências típicas de determinadas formas de vitimação. Ainda assim, não pode perder-se de vista uma premissa fundamental: cada caso é um caso.
Tipos de violência | Violência doméstica | Crianças que testemunham violência doméstica | Violência sexual contra crianças | Familiares de vítimas de homicídio | Furto ou roubo |
Psicológicas | · Perda da Auto-estima · Vergonha · Depressão · Desconfiança · Sentimento de culpa · Tentativas de suicídio | · Sentimentos de culpa e impotência · Agressividade · Insegurança · Medo · Dependência da mãe/pai · Sentimento de estar a ser disputada pelo pai e/ou mãe | · Nervosismo · Fobias · Isolamento social · Insónias e pesadelos · Enurese nocturna ou diurna · Sentimento de culpa · Irritabilidade · Agressividade | · Culpa · Agressividade · Depressão · Solidão · Ideias de suicídio · Sentimento de vingança | · Medo · Sentimento de culpa · Insónias · Nervosismo · Desconfiança |
Físicas | · Insónia · Fadiga · Distúrbios psicossomáticos · Distúrbios do sono · Dependência química | · Insónia · Hiperactividade | · Diminuição ou perda de apetite · Infecções urinárias · Doenças sexualmente transmissíveis · Dores abdominais · Vómitos | · Perda de apetite · Fadiga · Dificuldade de concentração · Problemas de saúde | · Distúrbios digestivos · Tensão arterial elevada |
Sociais | · Isolamento · Estigmatização · Incompreensão por parte de familiares e amigos | · Estigmatização · Absentismo escolar · Fraco rendimento escolar | · Medo de ir para casa · Manipulação constante dos órgãos genitais · Regressão a comportamentos antigos · Actividade sexual · Delinquência · Prostituição · Fugas do lar · Problemas escolares | · Isolamento · Desconfiança em relação aos outros · Conflitos familiares | · Desconfiança em relação aos outros · Alteração de hábitos · Redução de actividades sociais |