12 de fevereiro de 2009

O Agressor, a vitima e o ciclo disfuncional da violência doméstica

É quase sempre o marido ou companheiro e encontra-se numa faixa etária alargada, dos 25 aos 54 anos. No entanto, existem muitos outros casos de violência por parte de outros membros da família, ou mesmo de antigos companheiros ou cônjuges.
Segundo estatísticas do Serviço de Informação a Vítimas de Violência Doméstica, os agressores são muitas vezes dependentes de álcool e de outras drogas.

Em muitos casos, o agressor já foi, ele próprio, mal tratado de uma forma activa ou negligenciado: embora sem relação directa, grande parte foi vítima no passado, crescendo num ambiente familiar violento onde só conheceu determinado tipo de atitudes, que se transformam no seu modelo (reprodução do ciclo de violência). Por não sofrer habitualmente com os seus problemas, o agressor não pretende, em muitos casos, mudar. Daí a dificuldade na adesão a apoios, sendo geralmente necessárias pressões externas (familiares ou judiciais).

Normalmente tendem a justificar os seus problemas através de factores externos: sociedade e circunstâncias da vida.

É sempre fundamental avaliar os riscos e accionar esquemas de protecção adequados.


Este pode mostrar-se:
o Sedutor – trata-se de uma estratégia de manipulação que pretende descredibilizar a vítima e colocá-la muitas vezes em dúvida face a si mesma.
o Agressivo – em geral, quando sente que pode estar a perder o controlo. Tenta pelo medo conseguir os objectivos.

A Vítima

De um modo geral existem algumas características que são comuns encontrar em vítimas de violência doméstica, embora não seja obrigatória a sua presença:
§ Pertença a famílias onde foram vítimas de maus-tratos ou assistiram a episódios de violência;
§ Fraco ou inexistente apoio familiar;
§ Rede de suporte social frágil;
§ Auto-estima baixa com tendência a assumir a culpa pela situação;
§ Dependência emocional do companheiro;
§ Fraca capacidade de perspectivação do futuro e de ver opções de vida sem o companheiro.

Por outro lado existem factores que levam a vítima a manter a situação:

o Deficiente informação – desconhecimento dos seus direitos ou medo das consequências.
o Defender a família – preocupação especialmente com os filhos.
o Falta de apoio da família – vergonha, que as leva a afastarem-se gradualmente soa dos amigos e familiares, isolando-se acabando por se tornar mais vulneráveis.
o Recursos financeiros – escassos e impeditivos de alcançarem a autonomia.
o Razões psicológicas e afectivas e culturais – o processo de culpabilização e humilhação que vivem ao longo de anos impede-as, muitas vezes, de se aperceberem que estão a ser vítimas de um crime; crenças sobre o casamento (“os filhos precisam de um pai”; idealização de um casamento romântico); crenças sobre o homem (“ele vai mudar e ela pode ajudar”).
o Desculpabilização – por receio de ter “desperdiçado o passado” e de um “futuro vazio”.

Quando se encontram livres da violência doméstica as principais necessidades apresentadas são:

o Apoio material, sobretudo no que se reserva às condições habitacionais;
o Protecção para si e para os filhos;
o Reinserção no mercado de trabalho;
o Suporte afectivo e apoio na decisão;
o Apoio jurídico.

Perfil Sociodemográfico da Vítima

Género: feminino (87%)
Idade: entre os 26 e os 45 anos (34,1%)
Dependência: nenhuma (31,7%)
Estado civil: casada (47%)
Tipo de família: nuclear com filhos (51,4%)
Nacionalidade: Portuguesa (73,4%)
Nível de ensino: Ensino superior (9%), 3º Ciclo (7,3%)
Condição perante a actividade económica: Empregada (40,8%)
Principal meio de vida: Rendimento do trabalho (38,7%)
Profissão: trabalhadores não qualificados dos serviços e do comércio (10,7%)
Distrito de residência: Lisboa (33%)Tipo de vitimação de que são alvo: Vitimação continuada (78%)

Ciclo disfuncional da violência doméstica

Fase de Aumento da Tensão: o agressor vai acumulando tensões quotidianas, que ele não sabe resolver sem o recurso à violência, criando um ambiente de eminente perigo para a vitima, a qual vai sendo culpabilizada por tais tensões.

Fase do Apaziguamento: depois da “descarga” da tensão pela violência, o agressor manifesta arrependimento com recurso a bons tratos e sedução; promete não voltar a ser violento, desculpabilizando o seu comportamento, por exemplo, por se ter embriagado ou por lhe ter corrido mal o dia de trabalho.


Fase do Ataque Violento: o agressor maltrata, física e/ou psicologicamente a vitima, que procura defender-se apenas pela passividade, esperando que ele pare e não avance com mais violência.

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