21 de março de 2009

Entrevista à assistente social da instituição GAF

Numa entrevista realizada á instituição GAF em Viana do Castelo, á assistente social Dr. Mónica tivemos conhecimento de situações diferentes das entrevistas anteriores uma vez que circunscreve um maior número de vítimas.

Esta instituição lida com os casos de Viana do Castelo, sendo que possui também uma casa abrigo onde operam a nível nacional. Até agora tivemos conhecimento de 110 casos.

É uma instituição existente á 15 anos sendo que tem vários pólos de atendimento espalhados pelo país.

Têm um nível de entendimento muito prestável uma vez que possuem psicóloga, advogada e assistente social para ajudar as vítimas.

A advogada informa sobre todos os aspectos jurídico-legais sendo que não pode interferir no processo.

A assistente social analisa o seu estado emocional e físico e a partir dai desenvolve um plano de intervenção. Há dois tipos de vítima: aquelas que querem continuar com o parceiro e a assistente apenas a tenta ajudar para que ela aja para evitar as situações de perigo, por outro lado têm as que querem deixar o companheiro, em que para elas é criado um plano de segurança que consiste em ajudar a vítima a tornar-se independente, a formar a sua nova vida. As casas de abrigo só são utilizadas em último recurso.

Os casos de VD a nível de Viana do Castelo registam-se mais na zona do interior (ponte da Barca e Ponte de Lima).

As vítimas procuram a instituição através do encaminhamento dos centros de saúde, das esquadras, hospitais, … e todo o tipo de intervenção é realizado na instituição. Para a instituição nenhum caso fica por resolver, uma vez que desde que têm contacto com uma vitima aconselham-na e isso já é ajudar.

A instituição não tem qualquer tipo de contacto com o agressor, mas num novo projecto irão criar um apoio a agressores, mas quando se fala de ajudar um agressor a mesma instituição não pode ajudar a vítima e vice-versa.

A maior parte dos casos é do tipo de VD continuada, muitas mulheres são maltratadas desde crianças e pensam que é normal as mulheres serem rebaixadas perante os homens.

O atendimento varia de vítima para vítima, tudo depende do estado emocional da vitima em questão. As pessoas que trabalham neste ramo são profissionalizadas e complementam a sua formação com formações e workshops normalmente elaborados pela instituição CIG.

Denota-se uma maior afluência de crimes na época do Natal, Dezembro e Janeiro e no inicio do verão. A maior parte dos casos de VD é física uma vez que as que são vítimas psicologicamente muitas vezes nem se assumem como tal. As de classe baixa não sabem os seus direitos e as de classe alta têm vergonha de expor os seus problemas.

Na maior parte dos casos estão envolvidas crianças, nestes casos há uma avaliação de risco, isto é, tem que se ver que tipo de risco as crianças podem ter no agregado familiar. Se estão implicadas o caso vai logo para a Comisso de Protecção de Crianças e Jovens. Estas crianças podem ou não tornar-se agressoras, assim como podem ser as primeiras a dizer que não, não há nada que indique que uma criança vítima de VD se torne uma agressora.

A vergonha e o medo são os principais factores que dificultam a denúncia por parte da vítima. A dependência económica – normalmente o agressor tem o ordenado mais elevado – o facto de existir menores envolvidos, a religião – aqui em Viana verifica-se muito a questão do casamento até ao fim das suas vidas – e o que os outros pensam também condiciona a denúncia. Normalmente é a vítima que tem que abandonar o conforto de sua casa para poder livrar-se da VD ficando indignadas. Por isso é que a assistente considera que há muita coisa que devia mudar nos processos de VD. A nova lei do divórcio só veio piorar as coisas.

Não há nada que justifique este tipo de crime. Pode começar por uma simples discussão ou por ciúmes doentios. O agressor é que tem que querer mudar.

As assistentes desempenham assim um trabalho complicado uma vez que não é qualquer técnico que tem perfil para tratar deste tipo de casos, têm que saber controlar as emoções, que reunir estratégias para separar as coisas e não ter uma relação de intimidade para com a vítima, não devem ter pena delas nem envolver-se emocionalmente. Quando se saí do trabalho não se pensa nem fala mais nisso. Fora do trabalho tentam arranjar hobbies para desanuviar. Entre os colegas tiram-se as dúvidas fora do trabalho não se pensa nisso. “Não se vivem situações destas, se não, não havia técnicos de assistência social. É muito doloroso um atendimento pode demorar duas a três horas e depois não tenho capacidade para fazer mais nada depende também do nosso bem-estar” diz-nos a assistente social.