28 de fevereiro de 2009

Entrevista ao primeiro-sargento do posto da GNR de Barroselas


No dia 2 de Fevereiro do ano 2009 realizamos uma entrevista ao Primeiro-sargento da Guarda Nacional Republicana Carlos Alberto Torres Lima, de momento a exercer no posto da GNR de Barroselas.
O tema em questão é a violência doméstica, tal como o do nosso blogue e as perguntas direccionaram-se em geral para as zonas às quais este posto actua.

De uma forma resumida colocamos de seguida o conteúdo dessa entrevista.

Ø Na área na qual este posto actua e é responsável não existem muitos casos de violência doméstica. Comparando estes dados com os dados a nível nacional podemos até dizer que esta zona felizmente é privilegiada ou se compararmos com outros países os dados são bastante diferentes e baixos. No entanto temos de considerar que estes resultados vêm de casos que a polícia tem conhecimento, existem muitos outros casos que se desconhecem, mas existem e são muitos.
Ø Recebem em média entre 20 a 30 queixas por mês, mais ou menos 250 queixas por ano, sendo destas aproximadamente 30 de VD.

Ø Quando se deparam com um caso de VD, abordam a vítima e o agressor, e dependendo da gravidade da situação encaminham a vítima para uma instituição à qual estão ligados, e têm um protocolo: a instituição Recomeçar em Vila Praia de Ancora. Se o caso for grave e houver grande perigo para as vítimas estas são acolhidas em casas criadas exactamente para as receber enquanto correm perigo ou para reconstruir a sua vida.

Ø Existem muitos casos nos quais estão envolvidos menores. O processo destes casos em que estão envolvidos menores tem uma diferença. O caso é direccionado para a comissão de protecção de crianças e jovens que em conjunto ou não com alguma instituição prosseguem e resolvem esses caos.

Ø Na maior parte das vezes os menores também são agredidos e pelo menos grande parte daqueles que não é agredida já foi no mínimo ameaçada.

Ø Ao posto da GNR compete encaminhar estes casos para a instituição ou para a comissao de protecção crianças e jovens e realizar o auto do sucedido. Desta forma da parte deles os casos foram sempre resolvidos. A partir daí é a instituição que acompanha todos os casos apoiando psicológica, judicial e financeiramente, ajudando as vítimas a resolver os seus casos. A responsabilidade aí já não da GNR em geral, mas pode haver excepções.

Ø Os crimes de VD são continuados.

Ø Durante o percurso de formatura profissional, a polícia tem pouca formação sobre estes casos no entanto existe à disposição de todos eles, formação acerca deste tema. Neste posto o entrevistado e uma outra agente tiveram já formação.

Ø Normalmente são as vítimas que vêm fazer queixa sendo que a maior parte fá-lo através de um telefonema. Por outro lado também existem casos em que elas pedem a terceiros para denunciar a sua situação. No entanto…

“Todos devemos denunciar estes casos se tivermos conhecimento de tal, pois a VD é agora considerada um crime público e que a nível judicial evoluiu bastante”
Primeiro-sargento

Ø A vergonha que as vítimas têm em denunciar depende essencialmente do meio em que estão inseridos, da comunidade, sociedade que as envolvem. Por outro lado a dependência económica na maior parte dos casos que existe entre vitima e agressor também dificulta a denúncia.

Ø Quando as vítimas denunciam estes casos encontram-se muito afectadas psicologicamente. No entanto aquelas que procuram ajuda e se livram deste crime conseguem através de muita luta e esforço recuperar e iniciar uma nova vida.

Ø A nível nacional este tipo de crime dá-se mais no primeiro semestre do ano, já aqui nesta zona é no segundo semestre. As agressões dão-se mais ao final do dia e aos fins-de-semana, por causa do trabalho. O agressor bate na vítima em sítios menos visíveis do corpo dela (braços, pernas, barriga…) utilizando tudo aquilo que tiverem à mão para ferir, normalmente utensílios domésticos.

Ø A violência psicológica é a mais utiliza nesta zona e a que afecta gravemente a mesma causando danos irreversíveis. A violência sexual não é tão facilmente transmitida pois as vítimas têm vergonha tratando-se de algo íntimo e pessoal. No entanto isto tem vindo a ser contrariado, apesar de a nossa zona ser uma zona rural.

Ø Existem casos em que o homem é a vítima, mas são poucos. O homem tem mais vergonha de denunciar, normalmente acha-se superior e mais capaz de enfrentar uma mulher por considerá-la mais frágil.

Ø O álcool, as drogas, o desemprego são os principais motores da agressão que têm verificado. E não é fácil fazer mudar um agressor. Mas podemos elucidá-los das consequências que podem advir, principalmente se tiverem crianças envolvidas.

Ø A maior parte dos estudos remete-nos para hipótese de que as crianças que sofrem com este crime são posteriormente mais agressivas. A verdade é que quem presencia agressões ou até é agredido em criança pode vir a ter o mesmo tipo de comportamento ou comportamentos agressivos ou de risco. Mas isto não significa que tal seja uma justificação para tal e que isso aconteça sempre.

Área de Projecto - "Com se vive situações de VD? Vocês (polícias) próprios sofrem com estes casos? Têm apoio? Como ultrapassam tudo isto?"

"Nós também somos seres humanos e por isso também ficamos afectados com estas situações. Podemos recorrer a psicólogos existentes na Guarda Nacional Republicana."
Primeiro-sargento

Entrevista à assistente social do Centro de Saúde de Barroselas


Numa entrevista realizada no dia 16 de Fevereiro de 2009 á assistente social do Centro de Saúde de Barroselas (Helena Beirão) ficamos a conhecer alguns pormenores de casos de violência doméstica na nossa zona.

Este Centro de Saúde está responsável pelo atendimento ao público das regiões: Barroselas, Vila de Punhe, Alvarães, Carvoeiro, Portela Susã, Mujães e Tregosa, sendo que desde á três anos e meio para cá, há conhecimento e acompanhamento no Centro de Saúde de dez situações de VD, isto numa população de aproximadamente 13000 habitantes.

Este Centro de Saúde tenta auxiliar as vítimas que pedem ajuda, normalmente encaminhando-as para a instituição GAF de Viana do Castelo ou para a instituição Recomeçar em Vila Praia de Âncora, sendo menos frequente recorrer á APAV. Apesar de a violência doméstica ser um crime público, só encaminham os casos em que a vítima quer mesmo ser ajudada.

Normalmente ficam muitos casos por resolver porque as vítimas não querem ser ajudadas e não sentem coragem para ultrapassar este problema, uma vez que se trata de uma situação difícil de assumir. É algo que já ocorre há muitos anos na maior parte dos casos e que as marca traumaticamente para o resto das suas vidas. Normalmente sentem-se desvalorizadas, a sua auto-estima está desfeita e não têm força para ultrapassar o problema. Pensam que não vai haver melhores resultados com a denúncia do crime, uma vez que estes casos são sempre demorados, pelo que preferem manter-se no silêncio. Sentem-se também elas culpadas por não serem capazes de mudar a sua própria vida e de tentarem ser felizes. Normalmente são os médicos ou as enfermeiras que detectam estes casos. Os vizinhos quando o sabem não querem dizer nada para não se chatearem com os problemas dos outros. Normalmente não há qualquer contacto com o agressor por parte do Centro de Saúde e por vezes nem o chegam a conhecer, apenas se for um caso de VD contra uma pessoa idosa.

Todos estes casos de que falamos é contra a mulher, sendo que não há uma época sazonal mais propícia para estes crimes, há no entanto uma maior influência ao fim de semana por se tratar da altura em que saem mais para irem a cafés ou bares, sendo o principal factor de alteração dos comportamentos do agressor o álcool (nos casos do Centro de saúde, uma vez que há muitos factores que podem conduzir ao comportamento agressivo do agressor), descarregando depois na mulher na chegada a casa.

O agressor recorre mais frequentemente a utensílios de fácil acesso, como os de cozinha, por exemplo as facas. As vítimas apresentam normalmente escoriações, cortes, fracturas, …

Quando estes casos envolvem crianças o caso torna-se mais grave e normalmente há logo um processo de abertura na Comissão de Protecção de crianças e jovens. Mesmo que o menor não seja agredido fisicamente, mas presencia cenas de VD, já se pode afirmar que esta criança está a ser vítima também ela de VD. E não é por esta criança ser vítima de violência doméstica que pode vir a ser ela mesma um futuro agressor, como nos explica a Assistente Helena Beirão. Não há factos que comprovem tal acontecimento.

Em situações mais graves a vítima pode afastar-se do agressor através das casas de abrigo, uma vez que após a denúncia, se continua por perto do agressor a situação só tende a piorar. O problema é que como nos diz a assistente é que estes casos são muito demorados e a segurança da vítima fica posta em causa até que haja uma resolução do caso. Na maior parte dos casos não há a medida de privação e o agressor continua por perto.

A faixa etária dos agressores e das vítimas do Centro de saúde andam por volta dos 35 a 40 anos tratando-se essencialmente de classes sociais baixas, uma vez que as classes sociais mais altas tendem a manter uma família mais consolidada e a esconder os casos, de forma a que eles próprios consigam resolver o caso sem recorrer á via pública.

O único aspecto que a assistente vê que possamos fazer quanto ao agressor nos seus casos é sensibilizando-o para uma desabituação do álcool, tratando-se de um processo muito complicado e que tem que partir da sua própria vontade ou encaminha-lo para o apoio psicológico/psiquiátrico.

Desde já, agradecemos a disponibilidade da Assistente Social em nos disponibilizar o seu tempo para responder a todas as perguntas que fizemos.

O artigo foi escrito com base na entrevista realizada, sendo as palavras proferidas por ela diferentes mas com o mesmo conteúdo.

25 de fevereiro de 2009


Ligue 800 202 148 ou 144

Se tem conhecimento de algum caso de violência doméstica, ou de qualquer outro caso de extrema necessidade a nível social (marginalização, sem-abrigo...) contacte este número e receberá algumas indicações de como proceder com esse caso. Quer seja a pessoa em causa ao apenas tenha conhecimento de uma situação do género ligue para este número ou contacte outra instituição para ajudar nesse caso.

Não hesite, um simples telefonema pode mudar a vida de uma pessoa ou até de uma família.