28 de fevereiro de 2009

Entrevista à assistente social do Centro de Saúde de Barroselas


Numa entrevista realizada no dia 16 de Fevereiro de 2009 á assistente social do Centro de Saúde de Barroselas (Helena Beirão) ficamos a conhecer alguns pormenores de casos de violência doméstica na nossa zona.

Este Centro de Saúde está responsável pelo atendimento ao público das regiões: Barroselas, Vila de Punhe, Alvarães, Carvoeiro, Portela Susã, Mujães e Tregosa, sendo que desde á três anos e meio para cá, há conhecimento e acompanhamento no Centro de Saúde de dez situações de VD, isto numa população de aproximadamente 13000 habitantes.

Este Centro de Saúde tenta auxiliar as vítimas que pedem ajuda, normalmente encaminhando-as para a instituição GAF de Viana do Castelo ou para a instituição Recomeçar em Vila Praia de Âncora, sendo menos frequente recorrer á APAV. Apesar de a violência doméstica ser um crime público, só encaminham os casos em que a vítima quer mesmo ser ajudada.

Normalmente ficam muitos casos por resolver porque as vítimas não querem ser ajudadas e não sentem coragem para ultrapassar este problema, uma vez que se trata de uma situação difícil de assumir. É algo que já ocorre há muitos anos na maior parte dos casos e que as marca traumaticamente para o resto das suas vidas. Normalmente sentem-se desvalorizadas, a sua auto-estima está desfeita e não têm força para ultrapassar o problema. Pensam que não vai haver melhores resultados com a denúncia do crime, uma vez que estes casos são sempre demorados, pelo que preferem manter-se no silêncio. Sentem-se também elas culpadas por não serem capazes de mudar a sua própria vida e de tentarem ser felizes. Normalmente são os médicos ou as enfermeiras que detectam estes casos. Os vizinhos quando o sabem não querem dizer nada para não se chatearem com os problemas dos outros. Normalmente não há qualquer contacto com o agressor por parte do Centro de Saúde e por vezes nem o chegam a conhecer, apenas se for um caso de VD contra uma pessoa idosa.

Todos estes casos de que falamos é contra a mulher, sendo que não há uma época sazonal mais propícia para estes crimes, há no entanto uma maior influência ao fim de semana por se tratar da altura em que saem mais para irem a cafés ou bares, sendo o principal factor de alteração dos comportamentos do agressor o álcool (nos casos do Centro de saúde, uma vez que há muitos factores que podem conduzir ao comportamento agressivo do agressor), descarregando depois na mulher na chegada a casa.

O agressor recorre mais frequentemente a utensílios de fácil acesso, como os de cozinha, por exemplo as facas. As vítimas apresentam normalmente escoriações, cortes, fracturas, …

Quando estes casos envolvem crianças o caso torna-se mais grave e normalmente há logo um processo de abertura na Comissão de Protecção de crianças e jovens. Mesmo que o menor não seja agredido fisicamente, mas presencia cenas de VD, já se pode afirmar que esta criança está a ser vítima também ela de VD. E não é por esta criança ser vítima de violência doméstica que pode vir a ser ela mesma um futuro agressor, como nos explica a Assistente Helena Beirão. Não há factos que comprovem tal acontecimento.

Em situações mais graves a vítima pode afastar-se do agressor através das casas de abrigo, uma vez que após a denúncia, se continua por perto do agressor a situação só tende a piorar. O problema é que como nos diz a assistente é que estes casos são muito demorados e a segurança da vítima fica posta em causa até que haja uma resolução do caso. Na maior parte dos casos não há a medida de privação e o agressor continua por perto.

A faixa etária dos agressores e das vítimas do Centro de saúde andam por volta dos 35 a 40 anos tratando-se essencialmente de classes sociais baixas, uma vez que as classes sociais mais altas tendem a manter uma família mais consolidada e a esconder os casos, de forma a que eles próprios consigam resolver o caso sem recorrer á via pública.

O único aspecto que a assistente vê que possamos fazer quanto ao agressor nos seus casos é sensibilizando-o para uma desabituação do álcool, tratando-se de um processo muito complicado e que tem que partir da sua própria vontade ou encaminha-lo para o apoio psicológico/psiquiátrico.

Desde já, agradecemos a disponibilidade da Assistente Social em nos disponibilizar o seu tempo para responder a todas as perguntas que fizemos.

O artigo foi escrito com base na entrevista realizada, sendo as palavras proferidas por ela diferentes mas com o mesmo conteúdo.

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