12 de maio de 2009

A Violência doméstica é uma realidade invisível

“Cortei e pintei o cabelo. Tive de mudar também de emprego, dei um nome falso com o consentimento dos meus patrões. Mudei de telefone, mas só ligo aos meus pais e aos meus amigos de cabines telefónicas. Enfim, o preço foi alto mas salvei a minha vida… penso tantas vezes se ele um dia virá atrás de mim ou se já arranjou outra vítima”. Maria, de 39 anos, é um dos cerca de 110 mil casos de violência doméstica registados entre 2000 e 2006 em Portugal, 86 por cento sobre mulheres. Para alertar a sociedade, o livro “Sem medo, Maria. Violência doméstica – uma realidade invisível”, da jornalista Fernanda Freitas, analisa números, reúne testemunhos e opiniões de especialistas. “A primeira chapada é sempre sem querer. Mas repete-se. Geração após geração”, - refere a autora. Com prefácio de Marcelo Rebelo de Sousa e nota conclusiva do secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, Jorge Lacão. “O que mais me desesperou – e perdoem a expressão tão forte – foi o facto de tanta, mas tanta gente achar o fenómeno da violência conjugal como algo perfeitamente normal”, desabafa a autora na nota introdutória do livro. Segundo Fernanda Freitas, o livro pretende ser uma ferramenta que ajude as vítimas a encontrar respostas rápidas quer a nível legal, quer a nível social. “Ao longo da pesquisa que fiz, em mais de meio ano, percebi que há tanto para fazer. A lei tem algumas lacunas, faltam casas-abrigo, mas falta, sobretudo, uma clara mudança de mentalidades”. As consequências físicas e psicológicas também integram a edição. “Falei com psiquiatras que fazem a ponte entre estas vítimas e as vítimas da guerra”, refere a jornalista.

Como fazer queixa, quais os direitos destas mulheres, o apoio existente para sair da espiral de violência, com exemplos concretos ao longo do país, são alguns dos aspectos práticos abordados pelo livro. Sempre com o objectivo de mostrar às vítimas que “é possível começar de novo, apesar do muito que ainda poderá ser feito em Portugal”. A edição traz ainda um guia de recursos para todas as vítimas de violência. Linhas de emergência, contactos das forças de segurança (Polícia de Segurança Pública e Guarda Nacional Republicana), entidades gestoras de estruturas de acolhimento, gabinetes de consulta jurídica da Ordem dos Advogados, entre outros.


(artigo retirado do jornal “Voz das misericórdias” da edição de Março 2009)

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